Zulu
Caryl Férey– Está com medo, homenzinho?... Diga: está com medo?
Ali não respondia – víboras demais na boca.
– Está vendo o que está acontecendo, zuluzinho? Está vendo?!
Não, não via nada. Tinham-no agarrado pela raiz dos cabelos e puxado
até a frente da árvore do jardim para forçá-lo a olhar. Ali, teimoso, enfiava a
cara entre os ombros. As palavras do gigante encarapuçado mordiam sua nuca.
Não queria levantar os olhos. Nem gritar. O barulho das tochas crepitava em
seus ouvidos. O homem apertou o escalpo de Ali em sua mão calejada:
– Está vendo, zuluzinho?
O corpo balançava, trapo mole, no galho do jacarandá. O torso luzia
debilmente sob a lua, mas Ali não reconhecia o rosto: aquele homem
pendurado pelos pés, aquele sorriso ensanguentado acima dele, não era o de
seu pai. Não, não era ele.
Realmente não.
Verdadeiramente, não mais.